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quinta-feira, 30 de maio de 2013

Pianista é hostilizado por alunos em Campinas

Desabafo apela ao bom-sendo dos pais
G Paulista - 30/05/2013 15h13 | - Atualizado em 30/05/2013 - 16h19 
Marita Siqueira | marita.siqueira@rac.com.br




Em seu perfil no Facebook, André Mehmari fez um desabafo delicado sobre o ocorrido, sem citar a cidade e apelando ao bom-senso dos pais, que delegam à escola a educação dos filhos. Leia abaixo:
“Há uns dias participei como convidado especial de um projeto musical educacional, para jovens de escolas públicas, de 10-12 anos, aqui perto de SP. Levaram uma ótima banda, fizeram um roteiro bem bolado e caprichado com atores de primeira... e na segunda parte, a pedido da produção, entrei no palco, feliz da vida para falar de Nazareth e anunciar as canções que se seguiriam. Ao som de berros e injustificáveis vaias irracionais, ouvi toda sorte de grosseria: sai daí filho da p___! Vai tomar no Vai se ___! Fiquei um tanto cabisbaixo, mas segui quase firme e com muito orgulho falei um pouco dessa Música. Acompanhado por um super músico amigo, o percussionista e compositor Caito Marcondes, toquei desconcentrado e ainda estupefato uma suíte de maxixes Nazarethianos abraçando uma ária de ópera... É, eu queria falar pra eles dessa coisa bonita da Música, de não ter fronteiras, a não ser na cabeça de medíocres e preconceituosos. Mas a fronteira ali estava tão antes de qualquer pensamento, de qualquer diálogo ...tudo tão aquém de qualquer desenvolvimento, que abaixei a cabeça e levei mecanicamente a apresentação até o final, acreditando que se tocasse para um único par de ouvidos férteis naquela platéia de 600 jovens pessoas, já teria valido meu esforço, minha confiança na vida. Sei bem que educação é sempre desafio, e que o Brasil encontra-se muito longe de ter estrutura e pessoal adequado. Meu apelo aqui fica para os pais, que acreditam que a educação de um filho de dá na escola. Ela de dá principalmente em casa, neste nível fundamental da formação do caráter de um ser humano. Não coloquem filhos no mundo se não estão aptos e dispostos a dar uma formação cuidadosa e apaixonada a esses novos seres. E estou farto desse discurso politicamente soft-new-age-correto e praticamente inefetivo, de aceitar tudo e botar panos quentes em tudo que um jovem faz e diz: acredito que ele tem consciência de seus atos e cabe aos mais experientes apontar problemas, olhar essa turma como nossos semelhantes que em poucos anos estarão ocupando importantes cargos e funções. Educação é invariavelmente feita com amor e dedicação e essas são responsabilidades primordiais dos pais, depois da escola e da experiência. De qualquer maneira agradeço a oportunidade de tocar para esses jovens, mesmo tendo sofrido agressões que me ofenderam. Sei que aqueles que ouviram saberão me agradecer no futuro. E estarei plenamente recompensado e tranquilo!”
*Declaração postada no dia 25 de maio

SAIBA MAIS

André Mehmari é autor de composições e arranjos para algumas das formações orquestrais e de câmera mais expressivas do País, como Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), Quinteto Villa-Lobos, Orquestra Sinfônica de Brasília (OSB), Quarteto de Cordas da Cidade de São Paulo, entre outros. Como instrumentista, já atuou em importantes festivais brasileiros como Chivas, Heineken, Tim Festival, e no Exterior, como Spoleto USA e Blue Note Tokyo. A discografia reúne oito CDs solo. Recebeu duas vezes o Prêmio Nascente (USP-Editora Abril), na categoria Música Popular-Composição, com os temas De Sol a Sole Capim Seco (1995), e na categoria Música Erudita-Composição, com Cinco Peças para Quatro Clarinetes e Piano (1997). No ano seguinte, conquistou o primeiro lugar no Prêmio Visa de MPB Instrumental. Com a composição Omaggio a Berio, baseada na música do compositor italiano Claudio Monteverdi (1567-1643), venceu o concurso nacional de composição Camargo Guarnieri (2003), promovido pela Orquestra Sinfônica da USP. Em duo com Ná Ozzetti, lançou Piano e Voz, considerado pela crítica uma obra-prima e vencedor do prêmio Carlos Gomes de música erudita brasileira na categoria revelação do ano. Em 2007, lançou Contínua Amizade (vencedor do Prêmio Rival/Petrobras na categoria instrumental) e Gismontipascoal (Prêmio da Música Brasileira). Com o álbum Nonada (2008), foi indicado ao Grammy Latino.

sábado, 11 de maio de 2013

OLHE O OUTRO - ROSELY SAYÃO



A empatia é um caminho para sair do individualismo e melhorar muito as relações sociais
Fui testemunha de uma cena que considerei comovente. Estava esperando uma colega à porta de uma escola, era a hora da saída dos alunos. Mães, pais e crianças deixavam o espaço escolar com diferentes humores e comportamentos.
Quem já teve a oportunidade de assistir a cenas semelhantes sabe que esse pode ser um momento um pouco confuso e barulhento, mas é sempre muito rico para quem gosta de observar a interação entre pais e filhos.
Uma mulher e seu filho, de uns cinco anos mais ou menos, chamou a atenção do meu olhar. Passei a acompanhá-los logo que passaram por mim. Ela andava um pouco atrás do menino, que estava totalmente focado em algo que levava nas mãos.
De repente, o menino jogou um objeto no chão e continuou a caminhar em direção ao carro que --logo depois percebi-- estava bem próximo ao local onde eles e eu estávamos.
Foi o desenrolar desse acontecimento que considerei comovente e, por isso, compartilho com você, caro leitor. Essa mãe olhou bem para o entorno de onde estavam e, em seguida, chamou o filho. O garoto atendeu ao chamado da mãe de imediato e, assim que ele chegou perto dela, vi a mãe se abaixar e conversar com o filho em um tom bem tranquilo.
Eu imaginei que ela fosse mandar o garoto pegar do chão aquilo que ele jogara e colocar no lixo, que estava próximo. Só essa atitude da mãe, que eu pensei que fosse acontecer, já me surpreenderia porque, vamos convir, essa é uma iniciativa não muito comum de ser observada no espaço público.
Mas essa mãe fez algo bem diferente, como descobri a partir da reação que os dois tiveram em seguida. Depois de uma breve conversa dela com o filho, que eu não pude ouvir, os dois voltaram o olhar para uma servente da escola que limpava as escadas por onde muitos pais saíam com seus filhos. Na sequência, o garoto pegou do chão o que jogara --parecia um pedaço de lápis colorido-- e levou até o cesto de lixo. E, calmamente, os dois entraram no carro e foram embora.
Devo confessar que senti uma imensa vontade de caminhar até essa mãe e parabenizá-la pela sua atitude com o filho. Entretanto, tímida que sou, continuei parada onde estava, mas totalmente envolvida em meus pensamentos com o que eu acabara de presenciar.
Não sei as palavras que essa mãe disse ao filho, mas percebi que ela chamou a atenção dele para a servente, uma pessoa que realizava um trabalho que a criança nem notara e que tampouco respeitara ao atirar no chão aquilo que tinha nas mãos. Eu não sei se essa mãe sabe, mas o que ela fez foi tentar despertar no filho aquilo que chamamos de empatia.
Ter empatia significa ser capaz de se identificar com o que uma outra pessoa sente em determinadas situações, em geral difíceis, que provocam emoções fortes.
Estar aberto para compreender o que se passa com outra pessoa é uma maneira de se colocar disponível para ajudá-la, portanto. E isso sem falar do respeito pelo outro que a empatia provoca.
Sensibilizar o filho para a empatia é parte do que nós chamamos de formação moral. Hoje, não são muitos os pais que se ocupam desse aspecto tão importante da educação dos mais novos, não é verdade?
Na atualidade, a empatia é coisa rara. Estamos muito mais propensos a realizar julgamentos severos sobre outras pessoas do que inclinados a procurar compreendê-las. É que olhamos muito mais para nós mesmos do que para os outros.
A empatia é uma maneira de sair do individualismo e de se abrir para a conexão com os outros. As relações sociais melhoram muito com o desenvolvimento do sentimento de empatia, portanto.
A realidade que temos vivido tem apontado incessantemente para a importância de formarmos crianças e jovens mais sensíveis aos outros. Isso pode tornar a vida deles muito melhor.
ROSELY SAYÃO é psicóloga
São Paulo, terça-feira, 07 de maio de 2013